Espaços

18 de out. de 2013

Hoje eu perdi minha filha

Hoje eu perdi minha filha. Hoje várias mães e pais perderam seus filhos...

Hoje uma família perdeu uma filha. Hoje uma filha perdeu seus verdadeiros pais.

Hoje alguém brincou de deus. Brincou com destinos e sentimentos. Hoje alguém foi cruel. Essa crueldade nos fez perder...

Hoje eu, que já sou mãe,  perdi também. Hoje você que ainda não é mãe, nem pai, perdeu o direito de querer ser especial pra alguém. Hoje, e de hoje em diante, perdemos a oportunidade de salvar alguém; uma criança. Isso foi tirado de nós.

Hoje meu coração está como o de quem perde um sonho. Um filho.

Hoje perdi minha filha, que ainda nem é minha. Perdi a esperança e te-la. Hoje tiraram de nós, mães e pais de coração, a certeza de um dia sermos agentes de transformação na vida de algum pequenino.

Hoje eu chorei. De raiva. De dor. De medo. Chorei.

Minhas lágrimas estavam mais densas, pois vi nessa decisão a incerteza do meu futuro. Hoje meu coração apertou por não saber se vão me deixar apertar as mãos de quem espero.

Hoje senti medo. Hoje eu perdi. Você perdeu.

Hoje eu vi que a justiça pode ser cega, mas não burra. E ela foi burra. Incoerente.

Hoje eu vi uma criança deixar de ser criança para virar número. Estatística.

Hoje eu vi o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e senti nojo por ele ser só um papel cheio de letras bonitas. Eca, credo! Palavras só são vida quando colocadas em prática; ou serão eternamente palavras mortas.

Hoje eu olhei pra minha filha Mariah e pensei na que "procuro". Será que quando eu a "achar" vão me permitir ama-la? Será que a justiça irá brincar de Sorte ou Azar comigo também? A resposta pouco importa pois hoje muitos de nós perdemos nossa oportunidade de sonhar, de fazer e de amar.

Não é apenas a familia da Duda que sofre. Eu sofro. Se você tem coração, você sofre. Se você é pai/mãe, sofre também. Eu sei.

Mesmo assim, sigo crendo que o que se perde se acha. E assim sigo crendo que acharemos nossos filhos. E eles ficarão conosco. E nós os amaremos.

E que as Dudas, Diegos, Marcelas, Paulos, Rafaeis, Vivianes, Danieis, Rebecas, Davis, Joanas e a minha Zoe possam receber o amor guardado no peito de cada pai/mãe que os procura. Que o abandono não se repita. Que a justiça não os maltrate. Não nos maltrate.

Hoje eu perdi minha filha. Mas não vou deixar de procura-la.


#FicaDuda

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Pra quem ainda não sabe, corre em Belo Horizonte/MG uma ação judicial de reintegração familiar. Pais adotivos que tiveram os filhos recolhidos pela justiça sob alegação de maus tratos e abandono requereram a guarda dos mesmos. Seis, dos sete filhos, voltaram para a casa. Os mesmos estavam em abrigos (orfanatos). Porém a caçula, e FILHA de alguém, permanecia sob a guarda da familia adotiva. Porém hoje foi determinado que essa família será desfeita, depois de quase 3 anos de laços, e a menininha será dada à própria sorte, voltando para as mãos daqueles de quem um dia ela fora resgatada.

Entenda mais sobre o caso. Clique aqui.


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Quem sou eu: Sou mulher, esposa, amiga, filha e MÃE. Mãe de uma menininha que eu gerei. Minha Mariah. Mas também sou mãe de uma que ainda nem conheço, mas já sei que espera por mim; e eu por ela. Minha menininha, é o meu objetivo de adoção. Sonho com ela todos os dias. A procuro. Não sei quando ela virá. Talvez já. Talvez mais tarde. Mas virá.